Por membros da equipe de auditoria de 2014
“ Não é a votação que (define o que) é democracia. É a maneira de contar os votos”.
A despeito de todas as Fake News continuamente reproduzidas, de que o sistema eleitoral brasileiro permite auditoria, o fato incontestável, é que o único meio democrático de se auditar uma eleição, é através da recontagem do voto, independente do software da urna, algo que somente o papel (cédulas), ou a emissão eletrônica do registro físico, (voto impresso) asseguram. E isso é sonegado aos brasileiros, porque são os únicos do mundo, reféns de urnas de primeira geração, que usadas nos idos dos anos 90, desmaterializaram o voto, tornaram o povo dependente da “confiabilidade” de programas passíveis de hackeamento e por isso foram abandonadas rapidamente pelos países que as testaram – exceto o Brasil.
O Brasil é o único país do mundo onde as eleições são inauditáveis, porque o registro do voto fica exclusivamente na memória eletrônica da urna; é também o único do mundo, onde as apurações são secretas e feitas por tecnocratas do órgão eleitoral. Consequentemente, é o único país do mundo impedido de fiscalizar e de realizar a contagem pública dos votos, por cidadãos e candidatos.

Única auditoria independente ocorreu em 2014 e o resultado: as urnas brasileiras são inauditáveis.
Desde que as urnas eletrônicas foram implantadas em 1996, somente em 2014, pela primeira vez, um partido conseguiu a “autorização” do auditado, para realizar a auditoria do resultado eleitoral.
Alegando ter recebido avalanche de denúncias de fraudes e impossibilitado de proceder recontagem física — como é no resto do mundo, o partido do presidenciável derrotado (PSDB), solicitou auditoria independente ao TSE. Segundo eles, não para contestar o resultado, mas para dar resposta ao eleitorado.
Ministros do STF/TSE reagiram na imprensa com críticas, alegando que o pedido de auditoria era de perdedor inconformado com o “resultado democrático”. Que não havia motivos para suspeitar da “lisura e segurança” das urnas. (Como se não fosse um direito democrático mundial, qualquer perdedor auditar e contestar um pleito).

Inicialmente, o PSDB havia pedido uma verificação oficial, através de uma Comissão com todos os partidos e a participação do tribunal. Dias Toffoli negou, o mesmo ministro que transformou a contagem virtual dos votos num evento vip, onde ninguém teve acesso, a não ser 22 tecnocratas e o secretário de TI, Giuseppe Janino.

Após reiterada insistência, o PSDB finalmente conseguiu acesso aos dados parciais, sendo obrigado a assumir um gasto milionário para fazer o que em qualquer outra democracia teria custo simbólico: auditoria eleitoral.
Auditoria onde o auditado impõe regras e autoritarismo sobre os auditores?

Alguns dos muitos obstáculos enfrentados pela equipe de auditores, conforme Relatório oficial da Auditoria:
- O Partido foi proibido pelo TSE, de contratar para sua equipe, um americano considerado a maior autoridade do mundo em segurança de votação eletrônica. A alegação foi de que feria a soberania nacional envolver um estrangeiro.
No entanto, o mesmo TSE contratou a venezuelana Smartmatic para atuar nas nossas eleições em 2012 e 2014. Em 2018, venceu o pregão do TSE, um consórcio da mesma Smartmatic composto por 5 venezuelanos, um português e um coreano. O fabricante tradicional das urnas eletrônicas – Diebold- é procedente dos Estados Unidos, onde foi condenado por corrupção e banido do processo eleitoral americano por fraudes tão impactantes entre 2000 a 2004, que originaram até o famoso documentário da HBO “Hackeando a democracia”. (Vídeo legendado), mesmo assim, a empresa foi recebida em 2003 de braços abertos pelo TSE, e desde então, passou a fabricar as urnas brasileiras.
Quem viola a soberania nacional? - Obscurantismo da justiça eleitoral, com o não fornecimento à auditoria, de informações e documentos técnicos efetivos e originais de projeto. Foram fornecidos apenas material ilustrativo e construído propositalmente para demonstração em auditorias de “fachada” ou em divulgação pública.
- Proibição de utilizar métodos e técnicas investigativas efetivamente livres e apropriadas aos exames, limitando tempo, local, métodos e objetos àqueles previamente autorizados, configurando o controle da auditoria pelo próprio auditado.
- Não fornecimento de arquivos digitais do sistema e do seu ambiente real de especificação, projeto, desenvolvimento, manutenção, teste, homologação e operação/produção, frustrando a efetiva e real averiguação das denúncias.
- O TSE se recusou a disponibilizar dados eleitorais essenciais sob o argumento de que eles eram “sigilosos”.
- Recusa no fornecimento de cópias de programas-fonte, mesmo sendo livres, e demais arquivos para exame efetivo no laboratório dos auditores, sendo autorizadas apenas análises parciais notoriamente insuficientes e inadequadas para auditoria verdadeira do sistema.
- Proibição do exame de diversos componentes do sistema eleitoral.
- Respostas vagas para os questionamentos apresentados.
Algumas graves falhas encontradas:
Mesmo com tantas dificuldades, a auditoria conseguiu desmascarar uma série de fakenews que o serviço eleitoral divulga, entre elas a de que as urnas não têm conexão com a internet. Auditores puderam confirmar que os computadores dos Cartórios Eleitorais onde rodavam o sistema que gera as mídias utilizadas na carga e preparação das urnas eletrônicas, não tinham qualquer restrição quanto a estarem conectados na Internet no momento da geração de carga. Essa fase é crítica e deveria estar protegida contra acesso indevido, às chaves de segurança dos programas executáveis – a mesma chave que os peritos da PF extraíram em teste público.
- Identificaram programa criptográfico, vinculado à Abin, aberto à programas maliciosos que podem fraudar os processos de coleta e totalização dos votos.
- Comprovaram ausência da análise de denúncias de irregularidades recebidas nas eleições de 2014 e anteriores.
- A existência de muitos eleitores que votaram e justificaram o seu voto simultaneamente.
- A existência de muitos eleitores impedidos de votar, porque “alguém” já tinha votado em seu lugar.
- Alto índice de urnas com lacres violados.
- Além disso, a Auditoria também apurou graves problemas na contratação de fornecedores do órgão, revelou excesso de falhas na biometria, entre outros.
Ao final, a equipe composta por renomados especialistas do Ita, Usp e Cmind, concluiu: as eleições brasileiras são inauditáveis. Se não conseguiram provar fraudes, também não provaram que as fraudes não existiram, pois as urnas e o órgão eleitoral são à prova de prova. Ninguém prova sequer, que os programas entregues pelo TSE, são os mesmos que rodaram nas urnas.
AUDITORES INDEPENDENTE ELEIÇÕES 2014
Amilcar Brunazo
Marcos Simplicio
Marco Antônio Machado
Clovis Torres

Tudo isso culminou com a votação histórica do Congresso em 2015, no sentido de promover maior transparência ao processo eleitoral e independência do TSE, através da Lei do Voto Impresso. Em vão, já que mais uma vez, a vontade popular foi desprezada, o poder legislativo invadido e a lei impedida de ser realizada.

E apesar de todos os dados em contrário, qualquer busca no Google apontará as Fake News: PSDB conclui em auditoria que não houve fraudes nas eleições e ministros defendem urnas eletrônicas.
Resta a indagação: as urnas eletrônicas brasileiras são ferramentas projetadas pelos representantes da “autoridade eleitoral”, para que só eles possam captar e contar nossos votos? Eles podem eleger e “deseleger” quem quiserem? E quem pode provar que não?

Como diria Stalin: “quem vota e como vota, não importa nada. Só importa quem conta os votos”.
Referências:
90 mil assinam petição exigindo recontagem e auditoria 48 hs após as eleições
Relatório oficial da auditoria
Auditoria do PSDB nas urnas eletrônicas mostra que sistema eleitoral brasileiro é vulnerável
PSDB diz que sistema do TSE é inauditável e pede voto impresso.
Urnas eletrônicas são inauditáveis
Relatório oficial resumido da auditoria